quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

OS INVISÍVEIS

 
 
Eles não possuem identidade, nem rosto e nem família. Documentos? Se algum dia tiveram estão perdidos em alguma lata de lixo. Provenientes de lares desfeitos, problemas financeiros ou uma enorme vontade de deixar de ser e assumir outra identidade. Pacíficos, se deixam levar para depois voltar. Andam em círculos pela cidade, mantendo um roteiro. Podem ser vistos cuidando de suas roupas em algum chafariz da cidade. Aceitam por algum tempo a proteção e ajuda de grupos humanitários e religiosos, mas não estabelecem vínculos. Os moradores de rua são seres silenciosos, resistentes, nômades, solitários, ajustados à sua condição e desajustados às nossas. Driblam a fome e a sede. As doenças e as indiferenças. Não possuem identidade. São invisíveis. Ninguém nota a sua presença. Não são eleitores. Não contam no censo, mesmo sem terem perdido o senso. Estão na sociedade, mas não fazem parte dela. Acostumamo-nos, a cruzar com eles e a desviar o olhar do seu olhar e a evitar a sua vontade de voltar a amar.
Edison Borba

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