domingo, 18 de dezembro de 2011

AMIGO

Milton Nascimento nos emocionou com a sua voz, ao cantar “amigo é coisa prá se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração”. Pelas mãos do destino, Tancredo Neves, o primeiro presidente civil, após o triste período da ditadura militar, morreu antes de assumir o poder. Durante todo o cortejo fúnebre, essa melodia foi ouvida. A palavra, amigo nunca foi repetida tantas vezes, por tanta gente e com tamanha emoção.
Amigo e amizade são termos que andam juntos. Mais do que palavras são ações, isto é, uma pessoa tem para com a outra a ação da amizade, e a recíproca tem que ser verdadeira. Nada as obriga a exercer essa função. É opção dos corações. E assim caminha a humanidade. Conquistamos amigos diariamente e depositamos nele confiança, amor, lealdade, carinho, isto é, construímos a amizade.
A amizade é irmã do amor. Existem amantes amigos que se tornam amantes. Mas existem amigos que se amam e não são amantes.
Nesses encontros também é possível existir amantes que não são amigos. Pessoas que se satisfazem, por algumas horas e até um pouco mais. Fazem amor, mas não se amam. São amantes, mas não são amigos.
É interessante viajar nesse tema, e procurar fazer as mais diversas combinações entre amigos, amizades e amores. A única palavra que não cabe nesse jogo é traição. Amigos verdadeiros não traem a confiança do seu parceiro ou parceira. Não significa que entre amigos não haja discordâncias. Aliás, amigos verdadeiros discordam, brigam, apontam erros, trocam elogios, falam aquelas “verdades” que não gostamos de ouvir, porém não traem nunca.
A traição é uma atitude absolutamente contrária a manutenção de uma amizade. Irmã da mentira, a traição quebra o vínculo, destrói a relação, é como um vaso de cristal, quando fica arranhado perde o valor.
A distância não destrói a amizade, nos corações, de quem fica ou de quem parte, permanece a essência dos encontros.
A amizade é tão sublime, que Milton Nascimento, repete em sua Canção da América, amigos devem ser guardados debaixo de sete chaves e dentro do coração.
Não existe “meio” amigo, amizade é sempre por inteiro. É preciso mergulhar de cabeça e de peito aberto sem camuflagens. A autenticidade é a marca das amizades. Eu não concordo quando ouço o termo “amizade verdadeira”. Se não é verdadeira, logo não é amizade, portanto amizade é puramente amizade.
É triste, quando se perde um amigo. É uma imensa dor, impossível de descrever. Quando a perda é pela morte, o sofrimento é dilacerante, porém, a amizade irá permanecer pela eternidade. Quando um amigo viaja, também dói no peito, mas sabemos onde encontrá-lo, e quem sabe um dia haverá um reencontro e um grande abraço para relembrar bons momentos. Porém, quando se perde um amigo, pela traição, a dor é indescritível. Não é apenas a perda de uma pessoa com quem mantínhamos contato, é a perda de um sentimento. O que fazer com a amizade que não foi correspondida. O que fazer com as sete chaves que mantinham aquele amigo trancado em nosso coração. O que fazer com a ferida.
Trair amizade talvez seja mais terrível do que traições conjugais. Para essas, às vezes aparecem desculpas, que envolvem a busca de uma aventura. São casos passageiros que duram apenas uma tarde num motel. Mas trair um amigo é destruir um sentimento, construído sem papéis, cartórios e interesses. Amigos ficam juntos por opção, ouvindo apenas a voz do coração.
Edison Borba



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