terça-feira, 6 de dezembro de 2011

NINGUÉM GOSTA DE SENTIR FRIO

Diante da tela do computador, dedos ágeis, teclam incessantemente. As idéias brotam aceleradamente, registrando dados e emitindo respostas. Há vários meses, Sérgio está teclando com Darcy. Horas e horas. Dias e noites e mais as madrugadas. Aos poucos, foram desvendando os segredos de suas vidas. Entre verdades e mentiras teceram lentamente fios e fios de uma longa história. Algumas vezes eram os sonhos que dominavam a conversa. Em outros momentos eram as indignações. Ingredientes é que não faltavam para as suas narrativas. Notívagos, eram capazes de esquecer que o sono é algo indispensável à saúde.  Duas pessoas desvairadas; mergulhadas no universo imaginário dos emails e blogs não agüentavam viver sem teclar. Trocavam receitas de bolos, salgados e até de bebidas. Contavam suas aventuras e desventuras, numa intimidade cada vez maior. Até as rosas tatuadas que por coincidência, ambos tinham num lugar secreto de seus corpos, foram desvendadas. Aos poucos, criaram um código secreto, que somente os dois sabiam e podiam entender. Uma intimidade crescente os envolvia a cada dia. Aos poucos, foram ficando mais ousados em suas conversas. As receitas e opiniões sobre livros e filmes foram dando lugar a outros segredinhos mais interessantes. Como se trocassem os rótulos de garrafas  da água para o refrigerante seguindo para o vinho e finalmente chegaram até a vodka. Eram duas pessoas desvairadas, dominadas apenas pelo toc  toc de seus computadores. Nesse interminável mundo de telas e teclados, vale tudo ou tudo vale. A imaginação pode ir até onde os mais ousados alpinistas não conseguiram chegar. Pode-se acrescentar mais pimenta no molho ou misturar ingredientes diversos, porque atrás das máscaras computadorizadas, todos podem satisfazer seus desejos mais obscuros.
E foi dessa forma que esse relacionamento atravessou 365 dias de assíduos encontros virtuais.
Não havia mais nenhuma sensação a ser experimentada. Todos os enlouquecidos sonhos  já tinham sido pensados. Do sofisticado ao bizarro, suas cabeças, reinventaram e reinterpretaram de “um tudo”.
Foi então, que nasceu a vontade de marcar um encontro para poderem realizar todas as suas vontades. Talvez uma noite não bastasse para tantos desejos a ser saciados. Apesar de algumas preocupações, de ambos os lados, resolveram quebrar o tabu e partir para um cara a cara e deixar rolar as emoções. Pensaram num espaço aberto, para começarem a noite e depois, sob o aquecimento de algumas bebidas, partiriam para algum recanto de prazer.
Hora e local combinados. Roupas escolhidas. Perfumes colocados nos cantinhos mais sensuais de seus corpos, finalmente Sérgio e Darcy, iriam se encontrar.
Marcaram às 8 horas, num bar aconchegante de um tranqüilo bairro. Era inverno e ambos colocaram seus belos casacos e para aumentar o charme, usaram cachecol da mesma cor. Tudo combinado através de emails.
Como a natureza não tinha sido avisada desse tão esperado encontro; uma intensa chuva, vento forte e baixa temperatura transformaram a cidade num caos. Ambos molhados e tiritando, passaram a noite  abraçados sob a marquise de uma loja. Adiaram seus desejos e vontades, porque, ninguém gosta de sentir frio.
Edison Borba
  

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