terça-feira, 27 de dezembro de 2011

VIVENDO ÀS AVESSAS

Essa uma história para quem tem bons nervos e boa cabeça. Está liberado do analista e consiga suportar emoções fracas.
Após cozinhar seus alimentos na geladeira, colocou a toalha sobre o fogão e se deliciou com um gostoso sanduiche. O que sobrou desta lauta refeição foi guardado dentro da máquina de lavar. Cansado, após um dia de vadiagem, pois estava desempregado, esticou o corpo sobre a cadeira, ligou o rádio para assistir mais um capítulo da sua telenovela preferida. Assim vivia Roberval, um homem de hábitos simples e descomplicados.  Metódico todos os dias lia o jornal enquanto tomava o seu banho de chuveiro. Fato que o deixava confuso quanto ao teor das notícias.
Amante de animais e plantas adorava ouvir os miados de sua cadelinha, que apesar de ser uma legítima VL (vira lata), tinha pedigree registrado em cartório para pessoas. Suas plantinhas de plástico eram aguadas diariamente para se manterem sempre viçosas.
Homem de hábitos higiênicos fazia questão de lavar as mãos na xícara de chá, sempre que ia manipular o lixo. Defensor da ecologia recolhia todo o material considerado descartável, como roupas, sapatos, alimentos ainda na validade, arrumava-os em sacos plásticos que colocava no meio da rua.
Um autêntico cidadão! Apesar de ser jovem, ocupava os lugares preferenciais nos trens, metros e ônibus. Furava a fila nos bancos e mercados. Fumava em lugares fechados, até dentro de hospitais. Quando era observado por alguém, fazia questão de desacatar até as mais altas autoridades. Sabia que a lei estaria sempre ao seu lado, Roberval, ia levando a sua vida tranquilamente. Colocava terno e gravata para dormir e pela manhã usava o seu pijama de flanela, para procurar um novo emprego, sem sair de casa. Tarefa fatigante, que o deixava irritadamente tranqüilo, obrigando-o a voltar para seu aconchegante dormitório no subsolo de seu pequeno apartamento  609 de um edifício de dois andares. Provavelmente, esse fosse o motivo dele estar sempre se sentindo nas nuvens, como se habitasse o nada.
Certa manhã, após acordar e já vestindo seu pijaminha, para se manter em casa e tentar encontrar um novo emprego, Roberval conheceu Karlaval.  Um encontro casual. Coisas do destino. Que para aumentar a coincidência, ambos possuíam em seus nomes a sílaba VAL. Só podia ser predestinação, até porque esse momento aconteceu no período de carnaval, quando as crianças, ganham ovinhos de chocolate, trazidos por Papai Noel. Só podia ser um encontro para ser eternizado.
Olho no olho, coração disparado e amor a primeira audição. Eles sentiram que foram feitos um para cada um. Poderiam viver juntos, porém cada um em sua casa. E assim começou aquele desamor, que apesar de ter uma longa e efêmera duração, deu bons frutos. Ambos amavam saborear frutas misturadas com café. Todos os dias antes de se desencontrarem eles tinham como desjejum:  jaca com café, capuccino com manga, descafeinado com melancia e o famoso café pingado (com leite) e cajá.
E assim o tempo foi passando rapidamente devagar para Roberval e Karlaval. Horas, dias, meses e anos sem trocarem palavra, esse casal sonhava em fazer bodas de prata. Chegarem desunidos aos 25 anos de um não relacionamento que deu certo.
O final dessa história; nem eu sei contar. Dizem que ultimamente eles não são vistos nem juntos nem separados.
Quem souber do paradeiro deles, por favor, não avise a ninguém, o melhor é mantê-los na clandestinidade, para o bem de todos.
Edison Borba

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