quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

SAUDADE DA TABUADA?


Com o término de mais um ano letivo brasileiro, todas as Unidades de Ensino, organizam reuniões pedagógicas, conselhos de classe, encontros de pais e responsáveis e finalmente divulgam os resultados, que apesar de toda a modernidade do mundo atual, as listas são as mesmas: aprovados e reprovados. Apesar de todas as inovações e revoluções, leis e mudanças metodológicas, infelizmente, duas disciplinas encabeçam a lista de reprovados em quase todas as escolas: matemática e língua portuguesa.
Os jornais de hoje, 21 de dezembro de 2011, estão publicando os resultados das avaliações feitas pelo governo, em relação às escolas que oferecem ensino público (municipal / estadual / federal), e as notícias não são agradáveis: “nove em cada dez alunos do 9º ano (antiga 8ª série) das escolas públicas não sabem fazer contas com centavos”. Essa é uma triste constatação, que infelizmente está longe de ser modificada, apesar do muito empenho principalmente por parte dos educadores. A notícia se torna mais assustadora, porque mais de 80% dos estudantes brasileiros estão matriculados na rede pública.
Há alguns anos, a tabuada era um instrumento obrigatório, no ensino da matemática. Para muitos um instrumento de tortura. Os alunos eram obrigados a “saber de cor” as diversas tabelas, como: tabuada de somar, subtrair, multiplicar e dividir. Eu pertenço ao grupo de estudantes que passou pela tabuada. Não posso afirmar se foi um bem ou um mal. Era uma técnica metodológica do “meu tempo escolar”. Com as mudanças sociais, as revoluções culturais, musicais e educacionais surgidas após os anos cinqüenta,  as disciplinas também tiveram seus conteúdos e metodologias revistos e reavaliados. Novos caminhos surgiram e nesse processo inovador, a tabuada foi substituída por outros mecanismos. A simples “decoreba” foi trocada pela capacidade de compreender, entender, saber o motivo daquela operação. Essa revolução não se aplicou apenas no setor matemático, todas as disciplinas deveriam levar os alunos ao mundo da compreensão. Como fazer um aluno a entender a situação do mundo moderno sem que ele consiga estabelecer uma correlação entre os fatos do passado, e assim tanto na história, quanto na geografia, biologia e demais componentes das grades curriculares, a aprendizagem por repetição estava sendo substituída pelo aprender pensando, compreendendo, realizando conclusões.
Neste momento, o ensino da Língua Portuguesa torna-se o alvo das discussões. Como entender um conteúdo sem ter um razoável domínio da sua própria língua? Como levar crianças e jovens a sentir prazer pela leitura? Como estabelecer um vínculo de amor entre o ler e o aprender? Se de um lado a matemática abolia a tabuada, a língua portuguesa “libertava” a tradicional cartilha. Novas metodologias de alfabetização surgiram, revolucionando o panorama do ensino da língua pátria.
Os resultados dos exames nacionais indicam que nossos estudantes não conseguem entender o que estão lendo. Não são capazes de correlacionar fatos, e não conseguem encontrar a informação principal em um texto.
Estamos terminando o ano 2011, e ainda existem muitas dificuldades para quebrar alguns paradigmas que envolvem o processo de ensino aprendizagem, principalmente entre as duas pontas das grades curriculares - Língua Portuguesa e Matemática.
Não podemos deixar de refletir sobre o nosso País como um todo. Não podemos falar em educação como algo isolado do panorama sócio / econômico. Não podemos esquecer que milhões de brasileiros ainda vivem em condições de total precariedade. Grandes núcleos populacionais sobrevivem  sem condições mínimas de higiene. Continuamos a lutar contra níveis de mortalidade infantil e de analfabetismo. Como analisar mudanças de metodologia educacional para populações onde as escolas não são prioridade dos governos e os professores não são tratados com o devido respeito?
É muito triste constatarmos, que apesar dos esforços de muitos, o Brasil ainda depende e sente saudade das antigas e abandonadas -  cartilha e tabuada.
Edison Borba



 
 

Um comentário:

  1. Caro Edison: Houve um movimento religioso sob o "slogan": Volta ao cristianismo primitivo. Pois acho que estamos precisando de uma "Volta às tabuadas"! Chegam as tabuadas da multiplicação e, é claro, acompanhadas do entendimento pleno do que ela significa!
    Alcilea.

    ResponderExcluir