sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

AS PASSADEIRAS

Toalhas, lençóis e fronhas. Colchas grandes e pequenas. Calças, paletós e camisas. Blusas, saias, vestidos e casacos. Todos os tipos de roupa de adultos ou de crianças. Uniformes profissionais, ternos de empresários e  elegantes trajes. Nenhuma roupa deve ficar amassada ou com vincos. Tudo bem esticadinho sem nenhum amarrotado. As passadeiras, mulheres trabalhadoras, deslizam seus ferros delicadamente sobre os tecidos,  acariciando-os como o corpo de seus amados.
Elas emergem do vapor!  Fadas, usando de magia cuidam das roupas, transformando-as em belos e elegantes trajes.
Seda, brim, organdi ou renda nada escapa às mãos dessas mulheres. Com olhos atentos, como linces, elas não deixam escapar nenhuma ruguinha nos tecidos.
Imagino os seus sonhos ao cuidarem de um vestido de festa ou de uma camisola de renda. O que deve se passar por suas cabeças, ao deslizarem o ferro de engomar, sobre aquela peça. Onde esse vestido foi usado? Com quem essa camisola dormiu?
Cada roupa guarda uma história. Quem a usou? Quando?  
Será que o vestido escuro pertence a uma viúva que pranteou a morte do companheiro, ou é apenas um traje elegante, usado por alguma discreta secretária?
Dias e dias, cuidando de cada peça cuidadosamente. Estica, alisa, passa e engoma. Enormes lençóis sobre os quais deve ter havido incríveis histórias de amor. Amassados quando chegaram, ainda guardavam manchas de uma noite inesquecível.
Camisas de punho dobrado, usadas por executivos importantes. Homens que andam em carros com motoristas e assinam cheques de altas quantias. Pessoas exigentes, que não podem ter um pequeno amassado em seus trajes.
Vestidos de madames, senhoras emergentes, que muitas vezes acham uma dobra ou um vinco, onde nada existe, mas precisam fazer valer a sua “autoridade” e querem que o serviço seja refeito. E as passadeiras, pacientemente, atendem ao pedido daquela “senhora” imponente e decadente. Passam por cima da exigência, passando e repassando aquela roupa, não se deixando abater. Reagem como rainhas, solenes e imponentes na execução de suas tarefas.
Goma e engoma põem no cabide e olha, examina cuidadosamente, nenhum pequeno amassado, nenhuma ruga ou dobrinha escapa às mãos das queridas e competentes passadeiras.
Orgulhosas mulheres. No calor da profissão elas continuam firmes, como guerreiras, forjadas a ferro e fogo, se mantém inabaláveis em suas convicções de cidadãs brasileiras.

De Edison Borba
Para as Funcionárias de todas as lavanderias.

Um comentário:

  1. Olá,
    Texto maravilhoso e não deixa de ser uma bela, e vejo aí até para a dona de casa.
    Adorei vri aqui e já estou seguindo.
    Abraços.
    http://wwwavivarcel.blogspot.com/

    ResponderExcluir