sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

MADRUGADA CHUVOSA

Pingos de chuva batendo no vidro da janela do meu quarto fazem soar  uma agradável  melodia. Aos poucos vou me  deixando envolver  por esse  suave som provocado pela água que teima em cair do céu.  O tique taque do relógio, a chuva, o tempo me levam a  mergulhar em pensamentos confusos. São duas horas e estou tentando explicações para o que sinto. Existe algo especial, alguma coisa que não consigo entender. Penso em minha vida, meus amigos e na família. À medida que o tempo passa ficamos mais vulneráveis, mais sensíveis, mais frágeis e tentamos nos agarrar ao que está ao nosso redor como um náufrago que tenta se salvar segurando um feixe de palha.
A chuva continua a cair e o relógio à marcar o tempo. Meu coração a pulsa mais rápido. Não sei explicar o que está me acontecendo. É alguma coisa diferente. Estou diferente. Não quero justificar esse sentimento com o argumento da idade. Aquelas explicações: “precisamos aproveitar o tempo”.
Nada disso! Minha cabeça e  meu coração, estão funcionando em descompasso com o restante do corpo. O relógio e a chuva estão sendo responsáveis por esse sentimento que me invade, lentamente como se eu me desdobrasse em duas pessoas. Por um momento senti medo. Como se algo me levasse para  outro mundo, mais sublime e tranqüilo.
Uma coisa é verdade: gostaria de ter mais tempo! Sim, mais tempo! Não voltar no tempo; mas ter mais tempo, isto é, mais vida para que eu possa usufruir,  do que estou sentindo. Ter mais vida não significa viver mais. Talvez mais energia e vigor!
Quando somos jovens, os amores entram e saem das nossas vidas rapidamente. Porém, vamos  ficando mais lentos, e às vezes tão vagarosos, que não conseguimos alcançar mais o amor. Grande parte do nosso viver, usamos para aprender, estudar, trabalhar e acumular. Quando ficamos “prontos”, quando estamos diplomados para usufruir, nos faltam forças para aproveitar.
Essa situação é que me faz refletir ao som do meu relógio e dos pingos da chuva.
Agora que sou diferente, também estou diferente.
Aprendi que compartilhar é melhor do que amar por amar.
Creio que estou quase aprendendo a amar na dose certa. Não sufocar e nem deixar escapar.
Aprendi a esperar e não a me exasperar.
Aprendi a sorrir e a fazer sorrir.
Aprendi a não perguntar, mas querer saber,  me interessar.
Aprendi a não insistir, mas a me fazer existir.
Porém (Ah! Esse porém) tenho medo do que já não posso fazer.
Tenho medo de dormir e descansar e com isso perder tempo ou o tempo.
Preciso colher, mas sei que já não posso plantar.
Tenho idéias, mas não as forças.
Tenho desejos e vontades, mas não a resistência.
Não quero ser cuidado. Quero amor!
Não quero atenção. Quero desejos!
Não quero sair procurando. Quero ser encontrado!
Não quero ser apoiado. Quero caminhar lado a lado!
Não quero insistir. Quero existir!
Não quero ter um corpo. Quero ter vontades!
Não quero viver e nem morrer.
Quero ser, e assim sendo, amado pelo que sou!
E a chuva continua acompanhando o tique taque do relógio.
São quatro horas de uma madrugada chuvosa!
Edison Borba 


Nenhum comentário:

Postar um comentário