Ano, 1950, aos seis anos, acompanhei a
mobilização de toda a minha família. Minha casa era uma espécie de quartel onde
tios, primos, avós e amigos concentravam-se em torno do rádio para acompanhar
os jogos. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas percebia que era algo muito importante. Houve
um domingo, que os adultos, todos arrumados, homens de terno e as mulheres com
suas melhores roupas, abraçados e felizes foram para um local chamado Maracanã.
Após algumas horas, o mesmo grupo que
havia saído feliz, voltava triste e silencioso. Lembro-me de minha mãe chorando e preparando café para
toda a turma.
Os anos passaram e quando estava com
14 anos, e o ano era 1958, minha família novamente se reuniu em minha casa. Desta
vez, os encontros aconteciam de duas formas: uma para ouvir pelo rádio a
transmissão dos jogos e dias depois para ver na televisão Philco, tipo caixote,
os filmes dos jogos. Mesmo já sabendo dos resultados, meus pais, tios e demais
componentes do alegre grupo, comemorava aos gritos, cada drible e cada gol. No
domingo em que foi realizado o último jogo, o almoço foi macarronada com carne
assada. Meu pai e tios compraram fogos de artifício e um delírio tomou conta de
toda a família quando o juiz apitou, na Suécia, o final do jogo.
Eu sem entender o que se passava,
também pulei e cantei repleto de felicidade. Houve um momento maravilhoso,
quando toda a família foi para as ruas do centro da cidade para ver a seleção desfilar. Eu, meus irmãos e
primos também fomos juntos fazendo parte do grupo. Lembro-me ver os jogadores sobre um carro e o delírio
da população.
A Copa de 62, não aconteceu com a mesma
euforia das anteriores. Alguns familiares, incluindo minhas avós já haviam falecido
e o grupo, não teve o mesmo brilho dos anos passados.
Nas seguintes, 1970 e 1994, já não
havia mais o grupo familiar, apenas amigos que se reuniam em bares para as
comemorações. Chope, salgadinhos, gritos, abraços e depois, cada um para seu
lado e nos dias seguintes, as fotos eram a únicas lembranças da festa.
Em 2002, quando a Copa aconteceu na Ásia,
não fui envolvido por muito interesse. Adulto, percebi que os grandes atletas
já estavam com suas vidas cobertas por propagandas e o futebol arte, não existia. Uma grande campanha publicitária
e comentários sobre a manipulação dos resultados apagaram de mim a vontade de
participar. Mesmo assim, torci pelo Brasil, sozinho em minha casa, comemorei
com uma taça de vinho a conquista do pentacampeonato. Diante de um grande
aparelho de televisão com imagem colorida, assisti a euforia brasileira.
Agora, 2014, aos setenta anos, vejo a festa com
restrições. Muito “vedetismo” por parte de alguns jogadores, que não considero
atletas, mas peças de mercado, que jogam pelo valor dos euros. O povo sendo
empurrado pela mídia perdeu a
naturalidade. Hoje existe uma alegria comprada e comercializada. A propaganda
controla as emoções e uma entidade
chamada FIFA e a política são as donas do mercado e da festa, ditando as
regras.
Infelizmente após os jogos, a seleção
brasileira (??!!) retornará aos seus países, e o grupo será desfeito, mostrando
que brasilidade depende de um leilão com alto giro de moedas.
Porém, sou brasileiro e espero que
nosso país conquiste o título de hexacampeão. Vou assistir aos jogos pela minha
televisão de plasma, em meu sofá, aproveitando uma cervejinha gelada.
A vida continua e quero poder estar presente
ainda em outras copas, acompanhando os
rumos desta história da qual também sou um dos protagonistas.
Assim seja!
Edison Borba
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