quinta-feira, 12 de junho de 2014

LEMBRANÇAS DE COPAS.

        Ano, 1950, aos seis anos, acompanhei a mobilização de toda a minha família. Minha casa era uma espécie de quartel onde tios, primos, avós e amigos concentravam-se em torno do rádio para acompanhar os jogos. Eu não entendia o que estava acontecendo,  mas percebia que era algo muito importante. Houve um domingo, que os adultos, todos arrumados, homens de terno e as mulheres com suas melhores roupas, abraçados e felizes foram para um local chamado Maracanã.
Após algumas horas, o mesmo grupo que havia saído feliz, voltava triste e silencioso. Lembro-me  de minha mãe chorando e preparando café para toda a turma.
Os anos passaram e quando estava com 14 anos, e o ano era 1958, minha família novamente se reuniu em minha casa. Desta vez, os encontros aconteciam de duas formas: uma para ouvir pelo rádio a transmissão dos jogos e dias depois para ver na televisão Philco, tipo caixote, os filmes dos jogos. Mesmo já sabendo dos resultados, meus pais, tios e demais componentes do alegre grupo, comemorava aos gritos, cada drible e cada gol. No domingo em que foi realizado o último jogo, o almoço foi macarronada com carne assada. Meu pai e tios compraram fogos de artifício e um delírio tomou conta de toda a família quando o juiz apitou, na Suécia, o final do jogo.
Eu sem entender o que se passava, também pulei e cantei repleto de felicidade. Houve um momento maravilhoso, quando toda a família foi para as ruas do centro da cidade para  ver a seleção desfilar. Eu, meus irmãos e primos também fomos juntos fazendo parte do grupo. Lembro-me  ver os jogadores sobre um carro e o delírio da população.
 A Copa de 62, não aconteceu com a mesma euforia das anteriores. Alguns familiares, incluindo minhas avós já haviam falecido e o grupo, não teve o mesmo brilho dos anos passados.
Nas seguintes, 1970 e 1994, já não havia mais o grupo familiar, apenas amigos que se reuniam em bares para as comemorações. Chope, salgadinhos, gritos, abraços e depois, cada um para seu lado e nos dias seguintes, as fotos eram a únicas lembranças da festa.
Em 2002, quando a Copa aconteceu na Ásia, não fui envolvido por muito interesse. Adulto, percebi que os grandes atletas já estavam com suas vidas cobertas por propagandas e o futebol arte,  não existia. Uma grande campanha publicitária e comentários sobre a manipulação dos resultados apagaram de mim a vontade de participar. Mesmo assim, torci pelo Brasil, sozinho em minha casa, comemorei com uma taça de vinho a conquista do pentacampeonato. Diante de um grande aparelho de televisão com imagem colorida, assisti a euforia brasileira.
Agora,  2014, aos setenta anos, vejo a festa com restrições. Muito “vedetismo” por parte de alguns jogadores, que não considero atletas, mas peças de mercado, que jogam pelo valor dos euros. O povo sendo empurrado pela mídia  perdeu a naturalidade. Hoje existe uma alegria comprada e comercializada. A propaganda controla as emoções  e uma entidade chamada FIFA e a política são as donas do mercado e da festa, ditando as regras.
 Infelizmente após os jogos, a seleção brasileira (??!!) retornará aos seus países, e o grupo será desfeito, mostrando que brasilidade depende de um leilão com alto giro de moedas.
Porém, sou brasileiro e espero que nosso país conquiste o título de hexacampeão. Vou assistir aos jogos pela minha televisão de plasma, em meu sofá, aproveitando uma cervejinha gelada.
A vida continua e quero poder estar presente ainda em outras copas,  acompanhando os rumos desta história da qual também sou um dos protagonistas.
Assim seja!
Edison Borba

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