sábado, 7 de junho de 2014

PAISAGEM MACULADA

        Diariamente, ao abrir a janela da sala do meu apartamento, percorro com o meu olhar a paisagem que tenho o privilégio de contemplar. Árvores, pássaros, plantinhas e flores da jardineira da esquina, adotada pela Dona Neide, uma incrível brasileira. Às vezes uma família de micos, que alegremente pula pelos galhos numa algazarra infantil aparece tornando o meu dia mais feliz.
Observo o comércio, preguiçosamente abrindo as portas, pessoas apressadas rumo ao trabalho, o trânsito começando a ocupar a rua principal. Interessante acompanhar com os olhos, o passeio matinal dos animais e seus donos: difícil saber quem está passeando com quem. Algumas vezes, os cães puxam os donos, outras vezes são os donos que tentam orientar seus bichinhos. Divirto-me com essas cenas.
Aos poucos vou encontrando amigos distantes, pessoas que não sabem da minha existência, mas que já fazem parte do meu amanhecer. Gente, que diariamente, passa pela calçada, espera o semáforo abrir, entra num bar para um cafezinho apressado. São amigos que diariamente, desejo bom dia!
Durante algum tempo fico contemplando a minha paisagem secreta e só me afasto da janela quando dou conta que o quadro já está completamente pronto, e a tela está acabada.
Porém, um dia percebi que o jornaleiro da banca que fica em frente ao portão do mercado, não pendurou as coloridas revistas e nem os jornais, que me fazem lembrar  as  feiras nordestinas e seus varais de cordel. Os dias passando e o meu amigo, não aparecendo. Percebi, que a minha paisagem estava incompleta. Faltava o colorido, a alegria e a figura daquele amigo tão importante para a plenitude das minhas manhãs.
Infelizmente  soube que uma bala perdida atingiu o meu amigo jornaleiro. Vítima de assalto ele passou a ser mais um número na estatística da violência na Cidade Maravilhosa.
Minha paisagem está incompleta, está mais triste, está vazia!
Até quando vamos  manter nossas janelas fechadas, para não sofrermos a desilusão de vermos a nossa paisagem maculada.
Edison Borba
 

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