Diariamente, ao abrir a janela da sala
do meu apartamento, percorro com o meu olhar a paisagem que tenho o privilégio
de contemplar. Árvores, pássaros, plantinhas e flores da jardineira da esquina,
adotada pela Dona Neide, uma incrível brasileira. Às vezes uma família de
micos, que alegremente pula pelos galhos numa algazarra infantil aparece
tornando o meu dia mais feliz.
Observo o comércio, preguiçosamente
abrindo as portas, pessoas apressadas rumo ao trabalho, o trânsito começando a
ocupar a rua principal. Interessante acompanhar com os olhos, o passeio matinal
dos animais e seus donos: difícil saber quem está passeando com quem. Algumas
vezes, os cães puxam os donos, outras vezes são os donos que tentam orientar
seus bichinhos. Divirto-me com essas cenas.
Aos poucos vou encontrando amigos
distantes, pessoas que não sabem da minha existência, mas que já fazem parte do
meu amanhecer. Gente, que diariamente, passa pela calçada, espera o semáforo
abrir, entra num bar para um cafezinho apressado. São amigos que diariamente,
desejo bom dia!
Durante algum tempo fico contemplando
a minha paisagem secreta e só me afasto da janela quando dou conta que o quadro
já está completamente pronto, e a tela está acabada.
Porém, um dia percebi que o jornaleiro
da banca que fica em frente ao portão do mercado, não pendurou as coloridas
revistas e nem os jornais, que me fazem lembrar as feiras nordestinas e seus varais de cordel. Os
dias passando e o meu amigo, não aparecendo. Percebi, que a minha paisagem
estava incompleta. Faltava o colorido, a alegria e a figura daquele amigo tão
importante para a plenitude das minhas manhãs.
Infelizmente soube que uma bala perdida atingiu o meu
amigo jornaleiro. Vítima de assalto ele passou a ser mais um número na
estatística da violência na Cidade Maravilhosa.
Minha paisagem está incompleta, está
mais triste, está vazia!
Até quando vamos manter nossas janelas fechadas, para não
sofrermos a desilusão de vermos a nossa paisagem maculada.
Edison Borba
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